O funcionário procurou a Polícia em 2020, e prestou depoimento onde relatou um crescimento suspeito no número de filiados à Conafer
Um funcionário do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) alertou a Polícia Federal (PF), ainda em 2020, sobre o esquema de descontos irregulares em benefícios de aposentados e pensionistas envolvendo a Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil (Conafer). As informações foram divulgadas pelo Jornal Nacional.
Segundo matéria do InfoMoney, a reportagem aponta que o funcionário em questão, que não se identificou, procurou a PF em 2020 após receber ameaças de morte. Ele trabalhava na área responsável pela análise dos descontos em benefícios previdenciários e relatou um crescimento suspeito e fora do padrão no número de filiados à Conafer.
Na época, a entidade tinha cerca de 80 mil filiados com descontos autorizados. Em outubro do mesmo ano, o número saltou para mais de 250 mil, mesmo com o acordo suspenso.
Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) detalha que a Conafer foi a entidade com maior aumento absoluto no volume de descontos indevidos. O valor subiu de R$ 400 mil por ano em 2019 para R$ 57 milhões em 2020 e chegou a R$ 202 milhões em 2023.
No entanto, a operação que revelou o desvio de até R$ 6,5 bilhões só foi deflagrada em 2025, resultando no afastamento do presidente do INSS e do ministro da Previdência.
Em fevereiro de 2021, o mesmo funcionário prestou depoimento a PF onde reafirmou suas suspeitas sobre a Conafer. Na época, o acordo que permitia o desconto direto em folha havia sido suspenso alguns meses antes, após terem sido identificadas irregularidades. Contudo, poucos meses depois, a responsabilidade pela análise desses convênios foi transferida da Diretoria de Benefícios para a Diretoria de Atendimento, permitindo a reabilitação do acordo com a Conafer.
O presidente da Conafer, Carlos Roberto Ferreira Lopes, também foi ouvido pela PF, no Distrito Federal, em 2021. Em seu depoimento, negou qualquer responsabilidade pelos descontos irregulares, atribuindo as falhas à outra empresa, a Dataprev, que é responsável pelo processamento de dados do INSS. Na ocasião, ele se recusou a detalhar seus rendimentos, alegando cláusula de confidencialidade.
Ainda em 2021, a Justiça do Distrito Federal determinou que a Polícia Federal assumisse a investigação. No entanto, o inquérito só foi retomado em 2025, quando a Operação Sem Desconto foi deflagrada, levando ao afastamento do então presidente do INSS e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.
Até o momento, a operação Sem Desconto da PF revelou que o esquema de descontos ilegais em aposentadorias e pensões do INSS movimentou até R$ 6,5 bilhões entre 2019 e 2024. Além da Conafer, outras associações e sindicatos também são alvo da investigação, e novos desdobramentos são esperados nas próximas semanas.