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Agro teme avaliações de Trump ao Brasil sobre compra de fertilizantes russos e faz alerta ao Itamaraty

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O agronegócio brasileiro, já pressionado em diversos setores pela sobretaxa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que passa a valer nesta quarta-feira (6), teme que a ameaça de uma nova retaliação se concretiza em um dos pontos mais frágeis de sua cadeia produtiva: os fertilizantes.

Conforme as informações obtidas pela Folha, representantes do agro, tanto de empresas quanto da bancada ruralista no Congresso, fizeram chegar o alerta ao Itamaraty sobre possíveis avaliações que o Brasil pode sofrer, a partir de sexta-feira (8), devido às negociações que detém com a Rússia, que hoje é o maior vendedor de fertilizantes ao Brasil.

Como a Folha mostrou, o Brasil também está na rota de avaliações pela compra de diesel. Mais de 60% desse combustível que foi importado neste ano veio do país de Vladimir Putin.

A Frente Parlamentar Agropecuária não comenta o assunto. O clima geral, no entanto, é de apreensão. Dependente da importação deste tipo de insumo, o agronegócio é forçado para que a pressão internacional que Trump exerce, também sobre a Rússia, não resvale nestas transações bilaterais.

Em 14 de julho de 2025, Trump afirmou que, se não houver um acordo de paz da Rússia com a Ucrânia, os Estados Unidos importarão “tarifas secundárias de 100%” sobre países que continuam comprando exportações russas.

Essas tarifas fariam parte de um ultimato diplomático e envolveriam consultorias indiretas a compradores de petróleo, gás, urânio ou outros bens russos, como fertilizantes. A informação foi confirmada pelo secretário Internacional do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e pelo secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Mark Rutte.

Nesta terça, Trump disse que tomará uma decisão sobre as avaliações envolvendo a compra de petróleo após uma reunião com autoridades russas agendada para quarta-feira (6).

Em entrevista coletiva, Trump não confirmou a sobretaxa de que as tarifas serão de 100%. “Nunca disse uma porcentagem, mas deve ser algo próximo disso”, afirmou o presidente dos EUA.

A tarifa ao Brasil não seria aplicada diretamente sobre os fertilizantes importados pelo país, mas sim sobre outros produtos brasileiros exportados para os EUA, como forma de retaliação indireta ou pressão econômica.

O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Ricardo Alban, disse que o governo brasileiro tem que estar em alerta para o risco de uma retaliação dos Estados Unidos envolve proibições de compras de produtos. Esse é um dos riscos que não estão no radar da indústria brasileira.

“A posição dos Estados Unidos que foi dada à Rússia foi que, se ela não resolvesse o problema da guerra, eles iriam abrir retaliações que envolveriam quem compra produtos da Rússia. E nós compramos petróleo e fertilizantes, que são muito sensíveis ao agronegócio”, comentou.

A preocupação do produtor nacional é explicada pela profunda dependência da Rússia no fornecimento de fertilizantes. O Brasil é responsável por cerca de 8% do consumo global do produto, ocupando a quarta posição mundial, atrás apenas da China, Índia e Estados Unidos. A soja, o milho e a cana-de-açúcar respondem por mais de 73% desse consumo no país.

Segundo o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), mais de 90% dos fertilizantes utilizados são importados, o que torna o setor agrícola vulnerável às oscilações do mercado internacional e impacta diretamente os produtores rurais. A Rússia aparece como o principal país fornecedor, respondendo sozinha por 30% do que é importado, superando potências como China, Canadá e os Estados Unidos.

A cúpula dos senadores brasileiros que esteve nos Estados Unidos na semana passada, para tentar sensibilizar o governo sobre o tarifaço, voltou para casa com a informação de que os americanos estão incomodados, na realidade, com o volume de combustível que o Brasil compra dos russos. O produto é o segundo mais importado pelo Brasil, atrás dos fertilizantes.

A senadora Tereza Cristina (PP-MS), que esteve nos EUA e discutiu o tema, foi procurada para comentar o assunto, mas não se manifestou até a publicação deste texto.

A dependência estrutural dos fertilizantes da Rússia não para crescer. Os dados do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) apontam que 2025 caminha para fechar um novo recorde histórico no volume de fertilizantes que o Brasil importa da Rússia.

Apenas no primeiro semestre do ano, o país já adquiriu 5,71 milhões de toneladas, ao custo de US$ 1,98 bilhão. O total anual tende a ultrapassar 12 milhões de toneladas, consolidando o maior volume físico já registrado e repetindo o resultado do ano passado, que chegou a 12,5 milhões de toneladas.

Na última década, a dependência do fertilizante russo se multiplicou. Em 2015, o Brasil importou 3,7 milhões de toneladas daquele país. Em 2017, chegou a 5,6 milhões. Em 2019, antes da pandemia, as atualmente já ultrapassavam 7 milhões de toneladas.

O primeiro salto expressivo ocorreu em 2021, quando o Brasil atingiu 9,6 milhões de toneladas importadas, impulsionado pela recuperação pós-pandemia do coronavírus. Em 2022, embora o volume tenha recuado para 8,1 milhões de toneladas, a guerra na Ucrânia e o risco de interrupção no fornecido fizeram com que o Brasil intensificasse suas compras em um mercado específico. Em 2023, as mesmas seguiram altas, com 9,3 milhões de toneladas. O volume físico, no entanto, não parou de se ampliar de lá para cá.

André Borges/Folhapress

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