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Casal dono de pousadas de luxo na Praia dos Garcez é preso por crime cometido há 20 anos

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Acostumado com os holofotes e a vida glamourosa que levava na cidade de Jaguaripe, na região do Recôncavo Baiano, o casal de empresários bem-sucedido Leandro Silva Troesch e Shirley da Silva Figueredo vem sendo alvo de outros tipos de comentários na cidade. Donos de duas badaladas pousadas, ambas situadas na famosa Praia dos Garcez, onde já se apresentaram artistas e personalidades baianas, além de turistas famosos, eles foram presos nesta sexta-feira (19) dentro de uma das propriedades, após terem sido sentenciados pelos crimes de roubo e extorsão mediante sequestro contra a uma mulher em Salvador. 

Agentes da delegacia de Valença prenderam Leandro e Shirley na Pousada Paraíso Perdido. O casal trabalhava quando foi surpreendido pelos policiais. No sábado (20), eles foram trazidos para Salvador e custodiados no Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), para então serem encaminhados para o Complexo Penitenciário da Mata Escura. “Mas já recorremos à Justiça”, declarou o advogado de defesa, Abdon Abadde. 

Leandro e Shirley viviam uma vida normal, apesar de terem sido condenados em segunda instância pelo Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) em 2010 a 14 e 9 anos de prisão, respectivamente, em regime fechado. Os empresários são figuras públicas e as páginas do Instagram da Paraíso Perdido e da Pousada Aconchego das Águas somam quase 90 mil seguidores, com fotos deles sozinhos ou acompanhados de clientes, artistas e jornalistas. Apesar de tudo isso, o casal estava na condição de foragido. 

Em nota, a Polícia Civil confirmou a prisão, destacando que a confirmação da sentença (transitada em julgado) deu-se em 2018. O casal já foi transferido para o Complexo Prisional da Mata Escura e está à disposição da Justiça. Sobre o fato de a decisão ter sido cumprida somente na sexta, a PC disse que só agora o casal foi localizado. 

Apesar de a polícia ter informado ao CORREIO que a prisão se deu com base em determinação judicial em 2018, o Ministério Público do Estado (MP-BA) disse que no último dia 26 de janeiro a Justiça determinou a prisão dos empresários ao negar os recursos ingressados pelos advogados de defesa, solicitando a revogação de prisão preventiva decretada contra eles.

“O relator do processo, o juiz substituto de 2º Grau, Humberto Nogueira, pontuou que havia mandados de prisão em aberto, expedidos desde agosto de 2018, e, portanto, o fato de eles ainda estarem soltos configurava não aplicação da lei penal”, diz nota do MPE.

Desde o dia 7 de agosto de 2018 estavam em aberto mandados de prisão contra o casal de empresários. Ou seja, Leandro e Shirley estavam na condição de foragidos. “Em tese, sim (foragidos). Só que eles nunca se esquivaram. Desde quando os mandados foram cumpridos, nunca foram procurados pela Justiça. Uma coisa é você se apresentar. Mas eles optaram em trabalhar. ‘Olha doutor, se chegar (mandado), vamos acatar’, foi o que um dos meus clientes disse. E eles não tinham porque se esconder. Eles têm Instagram, fazem eventos no hotel e divulgam. São figuras públicas e estavam lá esse tempo todo”, declarou Abadde. 

O crime
O CORREIO teve acesso às informações do processo que apura as acusações contra Leandro e Shirley. Outras três pessoas contam como réus. São elas: Joel Costa Duarte, Carlos Alberto Gomes de Andrade e Júlio da Silva Santos. De acordo com a Justiça, Joel abordou a vítima no dia 10 de maio de 2001, quando ela estacionava o carro na porta de casa, no bairro de Itapuã, por volta das 18h30. Eles tomaram o veículo da vítima e a mantiveram no carro enquanto eram efetuados saques de dinheiro em caixas eletrônicos. 

Ao verificar o saldo bancário da vítima, Joel arquitetou a extorsão mediante sequestro, ficando a cargo de Júlio mantê-la em cárcere privado, primeiro no Motel Le Point, em Itapuã, depois numa casa situada na Praia de Ipitanga, em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS), alugada ao próprio Joel e a dois comparsas, neste caso, Leandro e Shirley. Enquanto mantida em cárcere privado, a vítima foi alvo de reiteradas ameaças de morte feitas por Júlio, somente sendo liberada após o pagamento do resgate de R$ 35 mil. No processo consta que Leandro que conduziu o veículo da vítima e fez os saques. Já Shirlei, foi a responsável por buscar o pagamento do resgate. Já as armas utilizadas na prática dos crimes pertenciam aos dois Joel e Júlio, que conseguiram fugir na ocasião.  No entanto, Leandro, Shirley e Carlos Alberto foram presos em flagrante. Posteriormente o casal passou a responder pelos crimes em liberdade, até a justiça ter voltado atrás em 2018.

O casal sentenciado pelo TJ-BA a 9 e 14 anos de prisão em regime fechado (Foto: Divulgação)

Repercussão
Jaguaripe é uma cidade com 891.345 km2 e tem uma população de aproximadamente 18.790 habitantes. É na Praia do Garcez que estão os dois empreendimentos do casal, ambientados no estilo rústico e cercados de muita área verde, um encontro do rio com o mar e quilômetros de praias semi-virgens. O mais badalado deles é a Pousada Paraíso Perdido, que possui suítes e chalés, onde a diária varia entre R$ 420,00 e R$ 1.200,00 na alta estação, além de restaurante e lojas. O estabelecimento já foi palco para apresentação de artistas baianos, como Jau, Banda Eva, Magary Lord, Pierre Onassis, dentro outros e já hospedou também atores globais. Para se ter ideia do tamanho do empreendimento, o espaço foi utilizado no réveillon de 2009 para Universo Paralelo, uma das maiores festas de eletrônica do país e que reuniu cerca de 17 mil pessoas. 
 
A prisão até hoje é assunto em Jaguaripe. “Foi um baque, porque ninguém imaginava. São pessoas acima de qualquer suspeita. Como a cidade aqui é muito pequena, as pessoas quem vem de fora para investir aqui são colocadas lá em cima, como pessoas de bem, de boa índole. Era essa a imagem que a gente tinha deles. De uma hora para outra, tudo mudou e não há outo assunto na cidade, a não ser a prisão deles”, disse por telefone ao CORREIO um morador da cidade.   

Os comentários estão por todo o canto. Desde a tradicional mesa de bar a grupos de mensagens de WhatsApp. “Quando recebi a informação no grupo, custei a acreditar. Mas depois que a foto dos dois começou a circular, o que mais ouvi foi isso: ‘Tá vendo você, quem vê cara, não vê coração’. As pessoas ficaram decepcionadas porque, até então, ninguém tinha nada contra eles, pelo contrário. Eles ajudavam muito o pessoal aqui, contratando mão-de-obra a mais na temporada na alta estação. Eu mesmo tenho amigos que trabalham há um certo tempo na pousada”, disse o morador ao CORREIO. 

Uma outra fonte da cidade, que já mora há muito mais tempo na região, disse também por telefone que onde hoje é a Pousada Paraíso Perdido era um casebre. “Eles chegaram aqui há muito tempo e não tinham dinheiro. O que se comenta é que onde hoje é a Paraíso Perdido era uma casa pequenininha, que eles passaram a tomar conta. Só que a dona morreu e aí eles ficaram, conseguiram investimento e começaram a trazer vários artistas. Não eram ricos quando chegaram aqui. Começaram a crescer depois. Mas ninguém sabe onde eles tiraram esse dinheiro”, contou. 

Já na Pousada Aconchego das Águas a infraestrutura é um pouco menor. Segundo os moradores, nesse empreendimento, o casal é o principal sócio. Três diárias numa cabana custam R$ 2.400.

O CORREIO conversou com alguns clientes que já se hospedaram nas duas pousadas. Uma delas passou as férias duas vezes na Paraíso Perdido. “A primeira vez fui com amigos. A pousada ainda era pequena, não tinha passado pelas reformas que teve. Na segunda vez que fui, foi em 2017, e já aceitavam pet e então levei o meu cachorro. A pousada já tinha passado por reformas, já estava mais ampla, com mais possibilidade de quarto, a área da piscina já tinha sido reformada e continuou com o estilo rustico e aconchegante”, disse ela, que preferiu não revelar o nome. 

Quando soube das prisões, ela ficou boquiaberta. “Quando veio a notícia, me surpreendi, pois aparentemente pareciam ser bem tranquilos”, declarou. Ela descreveu Shirley como uma pessoa extrovertida e Leandro mais reservado. “A gente teve mais contato com Shirley, porque ela sempre estava presente no dia a dia, sempre encontrava com ela, com uma vibe super animada, uma pessoa bem carismática. Lembro quando a gente estava na área da piscina, ela sempre estava por perto, animando, perguntando se queríamos alguma coisa. Contato com Léo (Leandro) só tivemos quando a gente alugou os quadriciclos, quando ele foi entregar, mas muito pouco, mas não dava para se saber quem era e ela sempre presente”, contou. 

(Correio)

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